O consumo de álcool e drogas está associado a uma série de problemas psicológicos e sociais. Os jovens são mais propensos a experimentar as substâncias e correm o risco de acabar abusando, principalmente, do álcool, do tabaco e da maconha.
Adolescentes começam a usar drogas – sejam lícitas (álcool e cigarro) ou ilícitas (maconha, cocaína, heroína, craque etc.) – por várias razões, mas, principalmente, por pressão e influência dos amigos do grupo, que chega a ser mais forte do que o alerta feito pelos pais.
“Os efeitos nocivos variam e dependem da droga usada, da quantidade e da predisposição do usuário, que pode desenvolver quadros de dependência física e psíquica, com graves repercussões na vida social, afetiva e no trabalho”, conta Danilo Antonio Baltieri, psiquiatra e coordenador do Programa Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (PROGREA), do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP).
O especialista afirma, ainda, que depois do uso de tais substâncias, é comum que a pessoa fique mais ansiosa e passe a apresentar quadros depressivos, mesmo aquelas que não apontavam problemas anteriores. “Além disso, não existe um só órgão que não seja afetado por esses agentes. Pelo tabaco, os prejuízos podem ser ainda maiores, pois mata mais do que outras drogas juntas”, revela Baltieri.
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Geralmente, os dependentes químicos têm a falsa sensação de que estão no controle sobre o vício, de que param ou reduzem quando quiserem, mas não é assim. “De cada 10 pessoas que fazem o uso do álcool, uma pode se tornar dependente ou consumir de forma abusiva; para a cocaína uma a cada três, heroína duas a cada três”, diz Baltieri.
A OMS classifica como consumo moderado do álcool até duas doses/dia para homens e uma para mulheres (utiliza-se como padrão de consumo a medida “drinque” uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou uma dose de destilado).
Essa diferenciação é feita porque a mulher é mais sensível ao álcool, conforme explica Camila Magalhães Silveira, psiquiatra e coordenadora do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA). “O organismo feminino possui menos enzimas que metabolizam a substância. Mesmo consumindo menos quantidade da bebida em comparação ao homem, elas se tornam dependentes antes”, conta.
“Homens classificados no padrão binge (abusivo) bebem cinco ou mais doses no período de 2 horas contra quatro ou mais das mulheres, o que já as deixa expostas a consequências como brigas, sexo desprotegido, acidentes de carro ou atropelamentos e overdose”, alerta Camila.
A psiquiatra diz que os usuários binge são bebedores de final de semana que planejam beber pouco, mas acabam exagerando e não percebem. Já o dependente químico, começa a apresentar sintomas de abstinência, tem tremores, taquicardia, passa mal e precisa de doses cada vez mais altas da substância para ter o mesmo efeito anterior.
Quem bebe, fuma com mais facilidade
Adultos e jovens se embebedam por motivos diferentes. O primeiro grupo, geralmente, é para confraternizar com a família e com os amigos. Já o segundo, para se embriagar, desfrutar da diversão e dos efeitos do álcool, além de fazer parte de uma turma. “O abuso sobrecarrega rins e fígado. O consumo crônico favorece o aparecimento de gastrites, úlceras e cirrose”, diz a psiquiatra.
Conforme Camila, “quem bebe está mais exposto a experimentar o cigarro e a maconha oferecida e, também assim, de usar outras drogas estimulantes, pois busca por novidades”.
Baltieri conta que entre 60% e 80% dos que consomem álcool também fumam. “Os alcoolistas fumantes apresentam alto risco de complicações de saúde. Naqueles que estão em tratamento, o risco de voltar a beber é ainda
maior do que para aqueles que só bebem”, alerta o coordenador do PROGREA.
Como os pais podem evitar a entrada dos filhos no álcool e nas drogas
O assunto álcool, cigarro e drogas precisa estar em pauta na família desde cedo e o diálogo transparente é o caminho. Aqueles com antecedentes familiares têm chance maior de quadros de dependência. “É importante estar presente na vida dos filhos, saber onde e com quem eles andam. Também é preciso permitir que eles falem e que sejam ouvidos. Ameaças não funcionam, principalmente na adolescência, que é uma fase de querer contestar”, orienta Baltieri.
O incentivo do pai para que o filho homem beba desde cedo, não deve acontecer. “É a chamada concessão passiva. Os pais acham que não vai fazer mal ou que é algo ligado à masculinidade, mas pode ser o primeiro passo para a dependência”, aponta a coordenadora do Cisa.
“Os brasileiros experimentam o álcool, em média, entre os 12 e 14 anos”, diz Camila. Quando a criança vê o adulto bebendo e pede para experimentar, vale novamente uma conversa franca, mostrando que ainda é cedo e apontando os males que o álcool pode causar.
Os primeiros sinais de alerta da entrada no vício são mudanças no comportamento e de humor (ficam mais arredios), rendimento escolar (faltas e notas baixas) e na saúde (como engordar ou emagrecer em curto período de tempo).
Caso o filho (a) que está bebendo ou usando drogas resolva se abrir e acabe contando para a família, é o momento de mostrar preocupação, de oferecer e procurar ajuda médica, manter o vínculo e incentivar a seguir o tratamento. “É Importante que os pais tenham firmeza, que levem o dependente para uma avaliação médica”, lembra Camila.
A propaganda e o cigarro
Já existem leis que regulamentam a propaganda do cigarro (e também do álcool) e o consumo do fumo em locais públicos, mas ainda falta eficiência nos programas de controle do uso do tabaco, com uma discussão mais ampla. É o que mostra a psicóloga Renata Carone Sborgia, autora do livro: “Tabagismo: uma busca da subjetividade no uso da droga permitida”.
Renata entrevistou adolescentes entre 14 e 19 anos para entender quais são as crenças e valores ligados ao início do hábito de fumar. Entre as frases de autoafirmação usadas por eles estava a de que “fumar faz os adolescentes sentirem-se adultos”. Também citaram que:
- Fumar leva à dependência;
- Faz as pessoas sentirem falta de ar;
- O cigarro é prejudicial à saúde;
- O cigarro debilita fisicamente as pessoas.
Os jovens que participaram da pesquisa acreditam que “os amigos e colegas influenciam a fumar”, “que fumar faz as pessoas sentirem-se bem” e que “fumar acalma”.
Já em relação às propagandas, Renata conta que a impressão dos adolescentes pesquisados é a de que:
- A mídia não influencia no hábito de fumar
- Fumar não mata;
“Muitos deles dizem que a campanha do Ministério da Saúde no maço do cigarro não incomoda, que simplesmente viram a embalagem e continuam fumando”, conta a psicóloga, que completa: “o quanto antes as esferas médicas, jurídicas, educacionais e afins decidirem acudir os adolescentes, impedindo-os de fumar e não abrindo portas de entrada outras drogas lícitas e ilícitas, menores serão os prejuízos”, afirma Renata.