Conheça mais sobre a Toxoplasmose

Compartilhe:
FacebookTwitterWhatsAppLinkedInShare

A toxoplasmose não é apenas perigosa para fetos, que podem contrair o parasita proveniente da mãe. O toxoplasma gondii também pode provocar danos nos olhos para quem o contrai fora do útero, seja ainda na infância ou na vida adulta. O protozoário provoca uma lesão no fundo do olho que pode causar de transtornos visuais leves a sérios problemas para enxergar. Um quarto das uveítes posteriores (25%), um tipo de inflamação nos olhos, são causadas pela toxoplasmose.

A oftalmologista e chefe do setor de uveítes da Unifesp, Heloisa Nascimento, explica que a toxoplasmose é contraída por meio da ingestão de carnes cruas e mal passadas, além de verduras, saladas ou água contaminadas pelo protozoário. O contato com fezes de gatos que estejam contaminados também representa perigo. A médica conta que a doença não provoca sintomas na maioria das vezes, mas, quando eles aparecem, podem ser semelhantes aos de uma gripe, com febre e ínguas.

Cláudio Roberto Gonsalez, infectologista do Hospital Villa Lobos, da Rede D¿Or São Luiz, explica que 80% das pessoas já tiveram contato com o toxoplasma gondii, mas se curaram espontaneamente. “A toxoplasmose normalmente é uma doença benigna, autolimitada. Algumas poucas situações trazem preocupação, como na gestante, na pessoa com imunidade baixa e naquelas condições que causam inflamação na retina”, conta.

Minoru Fuji, especialista em catarata e retina do Hospital CEMA, explica que o parasita viaja até os olhos por meio da corrente sanguínea, e que a toxoplasmose ocular pode apresentar sinais como visão embaçada, vermelhidão, baixa visão, sensibilidade à luz, dificuldades de enxergar as formas corretas dos objetos e até mesmo provocar as “moscas volantes” na visão, que são pequenas manchas que parecem voar dentro dos olhos.

Além disso, o protozoário pode causar lesões na retina, que, depois de cicatrizadas, são irreversíveis. “Embora seja difícil atingir o ponto de cegueira, é bastante comum ter perdas importantes de visão”, preocupa-se.

Visitas anuais ao oftalmologista são fundamentais

Ir ao oftalmologista apenas quando o grau dos óculos está defasado não é uma boa ideia. Se nesse meio tempo se tiver contraído toxoplasmose, a doença pode se desenvolver e não ser tratada em tempo hábil. O diagnóstico é feito por exames de fundo de olho e confirmado por exames de sangue. Uma vez identificado, os esforços se concentram em eliminar o protozoário.

“O tratamento é feito por meio de medicação – antibióticos e anti-inflamatórios, que tratam a inflamação causada pelo parasita. Uma vez tratado, o paciente pode ainda apresentar cicatrizes que permanecerão na retina”, detalha Flávia Abi Ramia, oftalmologista do Hospital Niterói D¿Or.

A especialista em uveítes da Unifesp explica que não há nada que evite a toxoplasmose ocular, caso já haja uma lesão no olho.

“Hoje em dia existe um tratamento que diminui a frequência das recorrências e pode auxiliar no tratamento preventivo, com o uso de antibióticos três vezes por semana.”

Uma vez com toxoplasmose, sempre com toxoplasmose

O acompanhamento é fundamental porque a baixa imunidade pode fazer com que a toxoplasmose se manifeste novamente, já que ela permanece latente no organismo.

“Uma vez contraída, os microrganismos infectam as células humanas e ficam dentro delas na forma de cistos”, explica Flávia. “Os cistos podem voltar a se multiplicar e causar a doença novamente. São as chamadas recidivas.”

Heloísa explica que algumas pessoas com quedas importantes na imunidade podem ter casos de toxoplasmose ocular mais extensos, nos dois olhos.

“São pessoas com Aids e que não tratam, com câncer disseminado e doenças reumatológicas sem controle”, exemplifica. Acompanhar com o oftalmologista vai evitar que os olhos sofram danos.

Cuidado ao provar alimentos

Fuji orienta que é melhor prevenir o contágio do que remediar. Como a toxoplasmose pode provocar baixa visão, é capaz também de causar comprometimento na produtividade e na qualidade de vida das pessoas. “A medida mais efetiva não é o tratamento, mas a prevenção”, recomenda.

“É fundamental conhecer bem a origem dos alimentos consumidos e sempre higienizá-los antes do consumo in natura, no caso de frutas, verduras e legumes, além de nunca provar o tempero dos alimentos – especialmente carnes de boi, porco e aves – antes do processo total de cozimento, quando os agentes nocivos ainda estão ativos e podem contaminar as pessoas”, alerta.

“Deixe para provar e ajustar o tempero só após o total cozimento dos alimentos”, aconselha. Isso vai evitar contaminações e dor de cabeça no futuro.

Toxoplasmose congênita

Cláudio Roberto Gonsalez explica que a gestante que não teve contato prévio com o toxoplasma gondii deve redobrar os cuidados durante a gravidez. “Quando a mãe adquire durante a gestação, ela não tem anticorpos que protejam o feto. Com isso, o protozoário consegue atravessar a placenta e atingir o feto, comprometendo vários órgãos”, alerta.

De acordo com o especialista, essa infecção pode causar má-formação nas crianças e microcefalia, além de alterações visuais, retardamento mental e comprometimento auditivo.

Gonsalez conta que, quando a doença se manifesta na gravidez, as taxas de sucesso do tratamento são altas. “O problema é que não se sabe há quanto tempo a toxoplasmose já estava agindo sobre o bebê quando começa o tratamento, mas é possível bloquear o avanço dela a partir do momento da medicação.”

O infectologista recomenda, a quem nunca entrou em contato com o toxoplasma gondii antes da gravidez, evitar contato com fezes de gatos, como em praias ou caixas de areia, além de não comer carne mal passada de nenhuma espécie.

De acordo com Gonsalez, a forma de contágio da toxoplasmose é oral, ou seja, se a pessoa manipulou fezes contaminadas, mas não levou a mão à boca, não há risco de contaminação.

Revisão técnica

  • Prof. Dr. Max Grinberg
  • Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
  • Autor do blog Bioamigo

Fonte: site Coração e Vida, produzido com a curadoria do cardiologista Dr. Roberto Kalil Filho.