O cigarro, o cachimbo, o charuto e, acreditem, o fogão à lenha, têm uma característica em comum: todos são produtores de partículas inaláveis que podem levar à Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), que envolve o enfisema pulmonar e a bronquite crônica, problemas que levam a tosse, produção de catarro e falta de ar.
Segundo Ilma Paschoal, presidente da comissão de DPOC da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, outras causas para a doença, que atinge cerca de 14% das pessoas acima de 40 anos no Brasil, são trabalhar com produtos químicos e em fábricas onde há pó ou que utilizem fornos nos quais é queimada biomassa, um combustível de matéria orgânica, como madeira (aí entra o fogão à lenha).
Dessa lista consta, inclusive, a maconha. “Por isso, quando o paciente diz que não fuma, temos que especificar se não é nada mesmo, porque tudo inalado pode causar problemas”, diz a especialista.
Mas, é mesmo o fumo do cigarro que tem a liderança folgada entre as causas da doença. “Cerca 90% dos pacientes que têm DPOC são fumantes. Estimamos que aproximadamente 20% dos fumantes desenvolvem a enfermidade. Não é obrigatório que quem fume tenha o problema, muitas pessoas estão expostas e algumas desenvolvem a doença. O Brasil tem, pelo menos, 30 milhões de fumantes e não há o mesmo número de pacientes com DPOC”, observa Ilma.
Desse modo, para evitar essa doença pulmonar, é preciso, em primeiro lugar, deixar o tabagismo. “Se a pessoa fuma e não tem sintomas (tosse, falta de ar e catarro, veja mais abaixo), que pare com o hábito. Se fuma e apresenta os sinais, deve ir correndo fazer exames e largar imediatamente o cigarro”, alerta o pneumologista José Roberto Jardim, coordenador do Centro de Reabilitação Pulmonar do Lar Escola São Francisco (da UNIFESP).
No mais, fábricas que trabalham com produtos químicos, pó ou que queimam biomassa devem isolar os procedimentos mais perigosos para a saúde. “No caso do fogão à lenha, não pode ficar dentro de casa em ambiente pouco ventilado. O ideal é trocar por aparelhos que utilizam gás de cozinha, que produz menos partículas tóxicas. Inclusive, quem tem lareira, precisa ficar atento com o sistema de exaustão”, completa Ilma.
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Entenda como funciona DPOC
Tenha atenção com os sinais para descobrir a DPOC o quanto antes
Sete Estados oferecem tratamento medicamentoso completo contra DPOC
Entenda como funciona DPOC
A DPOC, explica a pneumologista Ilma Paschoal, engloba duas doenças: a bronquite crônica tabágica obstrutiva e o enfisema pulmonar. De acordo com o pneumologista José Roberto Jardim, a primeira causa inflamação dos brônquios, o que leva a dificuldade na respiração e faz com que as pessoas fiquem cansadas com mais facilidade durante atividades físicas. Também há tosse diária, com catarro.
Já o enfisema atinge os alvéolos pulmonares, as estruturas responsáveis por levar oxigênio ao sangue e eliminar gás carbônico. “O pulmão vai ficando cada vez maior e menos elástico, não faz o movimento de ‘vai e volta’ como deveria, o que causa dificuldade brutal para expirar (soltar o ar). E isso traz limitações, a pessoa às vezes não consegue dar três passos e já sente falta de ar. A doença é progressiva, vai piorando e, com o tempo, tem gente que sente dificuldade até para pentear o cabelo, tomar banho ou se deslocar em casa”, afirma Ilma.
Outra consequência da DPOC é o fato de que os doentes ficam mais propensos a ter complicações sérias, mesmo diante de infecções ou viroses mais simples. “Recomenda-se, portanto, a vacina anual contra os vírus influenza (gripe). Além disso, é preciso ficar atento a modificações dos sintomas, quando começarem a se agravar, deve-se procurar o médico”, orienta a pneumologista.
Tenha atenção com os sinais para descobrir a DPOC o quanto antes
Um dos maiores problemas relacionados à DPOC é que o diagnóstico costuma ser feito tarde demais. Isso porque os pacientes acabam ignorando os sinais da doença, como explica o pneumologista José Roberto Jardim. Geralmente, quem desenvolve o problema começa a fumar cedo, por volta de 15 anos e vê os primeiros sintomas (pigarro e tosse pela manhã) aparecerem por volta dos 35 e irem progredindo e ficando mais frequentes a partir dos 45.
“Lá para os 50, 55 anos, essa pessoa começa a notar que, ao fazer esforço maior, como subir escada, uma ladeira ou andar depressa, não tem a mesma capacidade que tinha aos 20, 30 anos. Aí, vai ao médico, o que já podia ter feito 10 anos antes”, observa o especialista.
Para fazer o diagnóstico da DPOC, Jardim conta que são levados em conta os sintomas, as causas para que eles ocorram (em torno de 90% das vezes é o cigarro) e se o funcionamento do pulmão está alterado. “Fazemos, basicamente, cinco perguntas quando há suspeita da doença: ‘Tem mais de 40 anos?’, ‘Fuma ou é ex-fumante?’, ‘Costuma ter tosse pela manhã?’, ‘Tem catarro pela manhã?’ e ‘Cansa mais do que uma pessoa da sua idade?’. Se a resposta a três delas for positiva, é possível que a pessoa tenha DPOC”, explica pneumologista.
É também parte essencial do diagnóstico o exame de espirometria. “O médico pede para a pessoa inspirar o máximo que for possível e soltar rapidamente tudo o que puder. É medida a quantidade de ar que sai (volumes) e também a velocidade (fluxos). Para fechar o diagnóstico de DPOC, a espirometria é necessária, mas não é de tão fácil acesso, apesar de o aparelho ser relativamente barato”, explica a pneumologista Ilma Paschoal.
Sete Estados oferecem tratamento medicamentoso completo contra DPOC
A rotina de quem convive com a DPOC, além da espirometria, envolve outros exames. O pneumologista José Roberto Jardim explica que, na primeira consulta, é feito um raio-X do tórax. “Faz-se exame de imagem, porque o cigarro também causa câncer de pulmão. No mais, depende da situação do paciente. Caso vejamos que há progressões da doença, pedimos tomografia computadorizada de tórax para avaliar a extensão do enfisema, a gravidade do acometimento das vias áreas”, completa a pneumologista Ilma Paschoal.
A partir daí, parte-se para as alternativas de tratamento da doença que, sem dúvidas, começa pelo completo abandono do cigarro. Depois, os especialistas podem optar por dois tipos de tratamento. O farmacológico (à base de remédios), segundo Jardim, tem nos medicamentos inalados, as chamadas bombinhas, as melhores opções. Já o não farmacológico, de acordo com o especialista, é constituído dos seguintes passos:
- Reabilitação pulmonar: “trata-se de um programa que compreende exercícios físicos para pernas e braços. Para perna, deve-se caminhar. O modo mais simples e barato é andar de 40 a 45 minutos pelo menos 3 a 5 vezes seguidas por semana. Para o braço, exercícios com peso. Ambos servem para se ganhar massa muscular, melhorando a capacidade física”;
- Curso de educação: “é comprovado que as pessoas que sabem mais sobre a sua doença se tratam melhor e se comprometem mais com o tratamento. Para isso, o médico deve indicar sites especializados, de confiança (como o www.pacientes.com.br, mantido por Jardim)”;
- Apoio psicossocial: “os pacientes com DPOC, no geral, são mais idosos, têm limitações físicas, estão sempre tossindo e ficam meio largados em casa. Têm que se aposentar precocemente e acabam ficando um tanto deprimidos. Seria bom, portanto, um acompanhamento ou apoio psicossocial”;
- Acompanhamento nutricional: “na fase grave da doença, perde-se muito peso, é preciso orientação de um nutricionista para reverter a situação”;
- Oxigênio suplementar: “Se o paciente, tratado com o máximo possível dos medicamentos, continuar com oxigênio baixo, precisa receber a chamada oxigenioterapia domiciliar prolongada. É colocado um cateter no nariz, ligado a uma fonte de oxigênio, que vai ser fornecido para o pulmão em fluxos baixos, mas suficientes para melhorar a oxigenação no sangue”, diz Ilma.
Jardim ainda chama atenção para o fato de que os Estados de São Paulo, Paraná, Brasília, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco e Ceará custeiam todo o tratamento medicamentoso para a DPOC. “A cidade de São Paulo, inclusive, também paga o oxigênio suplementar, caso necessário”, conclui o pneumologista.