Estresse pós-traumático é doença e deve ser tratado

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Algumas experiências deixam marcas tão profundas que nem o tempo e a distância são capazes de suavizar. Seja em sonho, sejam difusas em lembranças que vêm e vão sem explicação, ou mesmo na forma de visões e sensações muito reais, elas insistem em permanecer, como verdadeiras assombrações.

A essa situação, que nada tem de superficial ou corriqueira, chamamos de estresse pós-traumático, uma doença psiquiátrica do grupo dos Transtornos Ansiosos.

“Em linhas gerais, o transtorno pós-traumático é gerado pela incapacidade de um indivíduo em se adaptar a uma mudança abrupta em sua vida, causada por um evento traumatizante”, explica o psiquiatra Alexandre Seco.
 

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Sintomas do estresse pós-traumáticos podem ser fáceis de diferenciar
Estresse pós-traumático pode se tornar crônico
Prevalência do estresse pós-traumático independe das causas

Sintomas do estresse pós-traumáticos podem ser fáceis de diferenciar

Apesar de conter elementos de outras síndromes mais conhecidas, como o pânico e a depressão, não é tão complicado distinguir o estresse pós-traumático de outras condições relacionadas, que geram sintomas parecidos. Por se tratar de uma doença intimamente ligada a acontecimentos pontuais e negativos, seu diagnóstico pode ser relativamente simples.

“Em geral, o paciente relata o aparecimento dos sintomas após uma situação traumática, o que facilita a diferenciação”, avalia o especialista.

Destes sinais, o mais clássico é justamente a chamada “revivência traumática”: a recordação insistente e real do trauma, que parece estar acontecendo naquele exato momento. Há ainda a tendência à reclusão e ao isolamento, pois é comum que o paciente tente evitar lugares e situações que, de alguma forma, remetam ao trauma. Por fim, também é comum observar em quadros de estresse pós-traumático características de ansiedade e pânico, como agitação e irritabilidade.

Tais sintomas, entretanto, podem levar até dois anos para se manifestar. E quando eles aparecem, muitas vezes são negligenciados.

“Nem sempre o paciente procura ajuda”, avalia a psicóloga Magda Pearson, lembrando que, mesmo quando já está em atendimento profissional, pode demorar algum tempo até que a pessoa consiga localizar em seu passado os eventos que levaram ao desenvolvimento do estresse pós-traumático.

Estresse pós-traumático pode se tornar crônico

Por isso, é preciso ficar atento, a fim de detectar a doença antes que se torne crônica, o que é comum acontecer.

“O tratamento é feito principalmente com medicamentos antidepressivos e ansiolíticos, e técnicas específicas de psicoterapia”, explica o psiquiatra Alexandre Seco, esclarecendo que o processo deve ser conduzido pelo psicólogo e pelo psiquiatra, com a participação decisiva das pessoas mais próximas ao paciente.

“A família e os amigos devem estar sempre engajados, oferecendo suporte emocional, estimulando o paciente a sair de casa, a enfrentar seus medos e manter-se ativo. Além disso, é importante que essas pessoas garantam que o doente faça corretamente o seu tratamento, não desistindo ou desanimando”, afirma o especialista.

É muito difícil enfrentar o estresse pós-traumático sem acompanhamento profissional. Quando não é tratada, a doença pode evoluir tanto a ponto de comprometer a qualidade de vida e inviabilizar o convívio social, além de levar ao abuso de álcool e ao consumo de outras drogas. Nos casos mais graves, o paciente pode até passar a apresentar tendências suicidas.

Prevalência do estresse pós-traumático independe das causas

Diversas situações podem levar ao estresse pós-traumático. Por essa razão, não é possível listar, de forma objetiva, suas causas. Sabe-se que eventos como acidentes, abusos, roubos e mortes repentinas de pessoas próximas costumam desencadear crises. Mas mesmo acontecimentos que não envolvem o paciente de forma direta são capazes de levar à doença, como a violência urbana.

“Alguns estudos estimam uma prevalência da doença de até 20% em populações expostas a violência, catástrofes naturais, guerras e pobreza extrema”, afirma o psiquiatra Alexandre Seco.

Porém, é importante destacar que pessoas diferentes reagem de forma distinta aos mais variados estímulos.

“Podemos perceber que há pessoas resilientes, que nem sempre desenvolvem quadros significativos de estresse pós-traumático. São indivíduos cuja fé é maior, ou que já passaram por situações difíceis e acreditam na sua capacidade de sobrevivência”, afirma a psicóloga Magda Pearson.