As intolerâncias alimentares são desordens que podem dificultar a digestão de um determinado componente pelo organismo. Ao ingeri-lo, é possível que o paciente tenha sintomas como desconforto abdominal, inchaço, gases e diarreia. Embora existam vários tipos de intolerâncias a alimentos, as mais comuns estão relacionadas à lactose e ao glúten.
Diferentes das alergias (quando existe uma resposta imunológica ao alimento ingerido), as intolerâncias ocorrem quando o organismo perde a capacidade de digerir um nutriente específico. Além do desconforto causado por elas, não há maiores prejuízos à saúde envolvidos, mas a orientação médica é importante para evitar deficiências nutricionais.
Intolerância à lactose
Segundo a Dra. Luciane Reis Milani, gastroenterologista do Hospital Sírio-Libanês, ao longo da vida, as células do intestino perdem a capacidade de produzir a enzima lactase, responsável pela quebra da lactose, açúcar presente no leite e em seus derivados. No entanto, alguns pacientes perdem mais e outros menos.
De acordo com a médica, a origem do problema é genética e 75% da população mundial apresenta o gene responsável. “Algumas pessoas podem começar a ter sintomas aos 25 e outros aos 40 anos”, afirma. O diagnóstico é feito por meio de exame, sinais e sintomas, como gases, dor abdominal e diarreia. Ao desconfiar da condição, a pessoa deve procurar um gastroenterologista ou clínico geral, que poderá fazer o pedido de exame.
Existem três formas para identificar o problema: a primeira é o teste oral de intolerância, um exame de sangue feito para medir a curva glicêmica após à ingestão de um líquido rico em lactose. “No paciente que tem a enzima lactase, a lactose é digerida e transformada em glicose e galactose. O teste dá positivo quando não há aumento da glicose”, explica a médica. “É um exame barato, mas a desvantagem é que demora para ser realizado e o paciente que tem intolerância pode passar mal”, completa.
Há ainda um exame respiratório, em que o paciente sopra um aparelho que mede o quanto de hidrogênio ele consegue liberar sem tomar a lactose. Depois, o paciente bebe o líquido e repete o teste após alguns intervalos. O último é o teste genético, mais rápido e mais caro, feito por meio de coleta de sangue.
A intolerância à lactose não tem cura e, por isso, a indicação é a retirada do leite e de seus derivados da dieta, sempre com orientação médica. Outra opção é fazer uso de cápsulas da enzima lactase no momento da ingestão de laticínios. “Pode tomar todos os dias, sem restrições, pois ela não é absorvida pelo organismo, apenas quebra a lactose”, diz Milani. A dose depende da quantidade do nutriente a ser consumida.
Sensibilidade ao glúten
Três problemas estão relacionados à ingestão de glúten, uma proteína presente em cereais, como o trigo, o centeio e a cevada: a doença celíaca, a alergia ao trigo e a intolerância ou sensibilidade ao glúten. Para fazer o diagnóstico da última delas, é preciso descartar as outras duas.
De acordo com a especialista, a alergia e a doença celíaca são mais comuns na infância, mas para segunda condição é necessário ter uma pré-disposição genética. “A doença celíaca é grave, então é necessário excluir o glúten para sempre da dieta, já que pode atrofiar a mucosa intestinal e evoluir até para câncer de intestino”.
No caso da sensibilidade, como não há alteração na mucosa, a restrição ao glúten não é definitiva. No paciente muito sintomático, pode ser indicada a exclusão por até um ano. Depois, com melhora dos sintomas, é possível reintroduzir.
Além de dor, distensão abdominal e diarreia, os sinais podem incluir cansaço, diminuição da memória e dificuldade de concentração. Como os sintomas entre o paciente celíaco e o intolerante são parecidos, é preciso consultar o médico e fazer os exames indicados.
Não existem testes específicos para diagnosticar a sensibilidade, apenas para a doença celíaca. Entre eles estão exames de sangue, teste genético e endoscopia com biópsia do duodeno. Descartando a possibilidade do problema mais grave, realiza-se o diagnóstico clínico da intolerância. No entanto, é importante lembrar que a exclusão do glúten do cardápio só deve ser feita se for indicada por um profissional de saúde.
Revisão técnica
- Prof. Dr. Max Grinberg
- Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
- Autor do blog Bioamigo
Fonte: site Coração e Vida, produzido com a curadoria do cardiologista Dr. Roberto Kalil Filho.