É importante lembrar que a alimentação das crianças difere bastante do padrão alimentar de adultos. Cortar glúten, oferecer soja e até incentivar sobremesas à base de leite depois de uma refeição com carne pode prejudicar os pequenos.
Soja e os hormônios
Karen Martins, nutricionista materno-infantil da Clínica Estima explica que a soja é um alimento que deve ser usado com muita cautela.
“Normalmente, pedimos para não introduzir na alimentação da criança por conta da parte hormonal. Em excesso, pode provocar desregulação nos hormônios, prejudicando o desenvolvimento. É um grão que deve ser evitado”, afirma.
A fonte maior de soja na alimentação das crianças, explica a nutricionista, vem de alimentos industrializados. “O ideal é que não se tenha alimentos industrializados na dieta infantil. É preciso priorizar os in natura. Preparar o próprio alimento, o próprio cookie ou bolo, por exemplo.”
Glúten e a doença celíaca
Condenado por muitos, o glúten saiu da dieta de muita gente sem necessidade. Os celíacos, que tem alergia comprovada ao glúten, são os únicos que comprovadamente precisam excluir da dieta essa proteína presente em muitos cereais.
Mas, com a moda de que “faz mal”, muita gente que parou de consumir o glúten sem ser alérgico também quer passar o novo hábito aos filhos.
Cylmara Gargalak Aziz, gastropediatra do Hospital Sírio-Libanês condena a prática, que pode, inclusive, predispor a criança à doença celíaca no futuro.
“A criança tem de ser exposta ao glúten até no máximo um ano de vida. Não se pode usar o mesmo padrão de adultos para as crianças”, alerta. “A ausência de glúten até um ano de idade predispõe à intolerância e à alergia. Para criar tolerância à proteína é preciso inserir na alimentação, a criança precisa ter contato.”
Ela conta que se o glúten não for inserido na alimentação até um ano de idade, a criança tem mais chance de ter alergia e doença celíaca no futuro. “É uma inflamação muito grave, a alça intestinal fica muito inflamada e perde a capacidade de absorção.”
Leite na sobremesa
Outro erro comum na alimentação infantil é associar alimentos com cálcio junto com os que contêm ferro. Essa dupla compete entre si e a criança acaba sem algum dos nutrientes. Em outras palavras, não se pode deixar a criança tomar leite ou iogurte depois de uma refeição com carne, por exemplo.
“O cálcio do leite não deixa absorver o ferro da carne. É preciso esperar uma hora e meia depois da refeição com carne para comer alguma coisa com cálcio”, explica Cylmara.
“Às vezes, a criança vem ao consultório com ferro baixo e a mãe não sabe o porquê, já que afirma que ela come carne. Mas o problema está na amamentação logo em seguida, ou na oferta de algum iogurte.”
Sucos e a frutose
Atualmente, na pediatria, não se recomenda mais a ingestão de sucos para as crianças. E é a frutose a vilã.
“Quando batemos uma fruta, jogamos fora a fibra e colocamos mais frutas para completar o caldo. E há muita frutose ali. É o excesso que predispõe a diabetes e a obesidade na vida adulta”, alerta.
Os cuidados benéficos que os pais têm de ter na alimentação infantil, segundo ela, é de restringir o açúcar e o sal até os dois anos de idade. “As crianças estão consumindo doces demais, além de sucos artificiais”, preocupa-se.
Revisão técnica
- Prof. Dr. Max Grinberg
- Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
- Autor do blog Bioamigo
Fonte: site Coração e Vida, produzido com a curadoria do cardiologista Dr. Roberto Kalil Filho.