Quais são os sinais de diabetes tipo 1 em crianças?

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Quando o filho de Erica Marques estava com 10 anos, passou por uma consulta com um pediatra e, como não fazia exames há tempos, o médico pediu aqueles de rotina. O exame de glicemia de Gabriel mostrou uma pequena variação (107) e o de colesterol também estava um pouco alterado. Pelo fato de o garoto estar um pouco acima do peso, o pediatra orientou uma reeducação alimentar e pediu que retornasse dali um tempo para uma reavaliação.

Gabriel, então, começou a perder peso. “Ele perdeu seis quilos. Achei muito para uma criança de 10 anos, mas, como os hábitos estavam melhores, acreditei que era isso”, conta Erica.

Um sinal vermelho se acendeu quando a perda de peso veio acompanhada de uma sede insaciável. “Chegava a me irritar o tanto que ele abria a geladeira para beber água. Consequentemente, fazia muito xixi.”

Erica, que era coordenadora na mesma escola em que o filho estudava, começou a notar que o garoto dormia sobre a carteira escolar. “Ele nunca dormia à tarde e passou a dormir todo dia. Entrávamos no carro e quando chegávamos na esquina, ele já tinha dormido”, lembra.

A perda de peso continuou, mas a mãe notou que os quilos a menos não estavam deixando o menino com uma aparência saudável. “Começou a parecer com um zumbi. Sem vida e sem alegria para qualquer atividade.”

Ela, então, decidiu antecipar a consulta médica e marcou uma com urgência. O médico suspeitou de diabetes tipo 1 e pediu exames emergenciais. Por ter prova escolar, o garoto não conseguiu fazer o exame já no dia seguinte. No outro dia, a espera no laboratório estava muito longa e, pelo fato de estar em jejum – e com fome -, Gabriel voltou só no outro dia.

“Nesse dia ele estava mais estranho do que nunca”, conta Erica. Depois do exame, comentou com a sogra o que estava acontecendo com o menino, e ela sugeriu que ele fosse medir a glicemia na farmácia. “Eu nem imaginava que isso era possível. Corremos na farmácia e fizemos o exame: deu 396.”

Erica conta que achou que iria para o hospital, eles dariam algum remédio para Gabriel e eles voltariam para casa. “Ledo engano.” Na triagem do hospital, ela já notou que algo realmente não estava bem.

“Percebi que as coisas não estavam boas quando ele passou na frente de todas as crianças e a cor da pulseirinha era cinza, a segunda cor na lista de prioridades do hospital.”

Uma endocrinologista pediátrica atendeu Gabriel. “Disse que ele teria que fazer um exame para ver se ele ficaria no quarto ou na UTI. Nesse momento, meu mundo caiu. Comecei a perceber a gravidade”, conta Erica.

Gabriel estava, naquele momento, com um alto nível de cetoacidose provocado pelo diabetes tipo 1, quase entrando em coma. “Se tivéssemos esperado os resultados do laboratório, talvez não tivéssemos tempo de socorrê-lo.”

Passada a fase do hospital, Erica conta que lidar com o diabetes tipo 1 foi desesperador no início. “A glicemia ainda estava em total descontrole. A fase ‘lua de mel’, aquela em que o pâncreas ainda funciona um pouco, as hiperglicemias e hipoglicemias eram constantes”, conta.

Gabriel tinha pavor de voltar para o hospital, por isso se cuidava muito bem. “Eu acredito que ele não perdeu o ano letivo por eu trabalhar na escola em que ele estudava, e tinha como acompanhá-lo bem de perto.”

Hoje com 14 anos, Gabriel estuda em outra escola. “Para escolher a escola nova, eu primeiro queria saber como eles poderiam cuidar dele na parte da saúde. A parte pedagógica ficou em segundo plano, pois eu tinha medo das hipoglicemias na educação física, por exemplo. Escolhemos a escola que nos passou mais segurança, e graças a Deus tudo tem corrido bem.”

A história de Erica não é a única. Keila Silva, mãe de Miguel, conta que o filho, hoje com cinco anos, foi diagnosticado com diabetes tipo 1 com apenas um ano e meio de vida. Logo depois de uma inflamação na garganta, Miguel, já desfraldado, começou a tomar muita água e, cerca de 20 dias depois, começou a fazer xixi na cama e a emagrecer.

“Achávamos que ele estava querendo chamar atenção, pois eu trabalhava o dia todo e não ficava muito com ele”, lembra.

Por achar estranho o comportamento do menino, Keila o levou ao pediatra e, quando a glicemia de ponta de dedo foi medida, o valor ultrapassava 500. “Saímos direto para o hospital e ele ficou internado 11 dias.”

Passado o susto inicial e as adaptações com a medicação, hoje Miguel vai a escola, em passeios da classe, aniversários e come bem. “Temos insulinas ótimas que nos permitem isso. Vivemos normalmente, claro que sempre com cuidado.”

Doença sem causa

A endocrinologista Denise Ludovico, presidente da Associação de Diabetes Juvenil (ADJ), explica que o diabetes tipo 1 é diferente do tipo 2 por ser um processo autoimune, em que as células de defesa do organismo atacam o pâncreas como se não o reconhecessem como membro do corpo.

“Com o tempo, o pâncreas passa a não produzir mais insulina, e quando a falta de insulina vai aumentando é que aparecem os sintomas: urinar muito, beber muita água, comer e mesmo assim emagrecer”, relata a médica.

A razão do surgimento do diabetes tipo 1 ainda é desconhecida pela ciência. Há suspeitas de que esteja relacionada a alguma infecção viral ou nunca ter tido aleitamento materno.

“Mas mesmo assim vamos achar casos que não se encaixam. De fato, a gente não sabe. O que sabemos é que em famílias que têm doenças autoimunes, como lúpus, artrite reumatoide, tireoide de Hashimoto, doença celíaca, o gene de imunidade deve estar alterado, e isso aumenta a chance de ter diabetes tipo 1. Mesmo assim, nem todos vão desenvolver a doença”, explica Denise.

Sinais de alerta

Beber muita água, aumentar a frequência de idas ao banheiro – ou, no caso de crianças menores, a troca de um número maior de fraldas do que o habitual são sinais comuns de diabetes tipo 1. Além disso, as crianças geralmente passam a comer mais e mesmo assim perdem peso.

“A medida que essa glicemia se mantém alta, pode acontecer a cetoacidose diabética, em que o sangue fica ácido. Durante a cetoacidose pode surgir dor abdominal intensa, vômitos e alterações de consciência”, explica a médica.

Ela conta que, infelizmente, muito dos diagnósticos já são feitos durante a cetoacidose, pois os sinais anteriores muitas vezes são desconhecidos pelos pais.

 

 

Revisão técnica

  • Prof. Dr. Max Grinberg
  • Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
  • Autor do blog Bioamigo

Fonte: site Coração e Vida, produzido com a curadoria do cardiologista Dr. Roberto Kalil Filho.

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