Às vezes, ficamos tão cansados que nosso corpo demora para voltar ao normal. Pode ser por conta de uma situação estressante, de uma sobrecarga de trabalho ou de um esforço físico inesperado. Parece que a canseira não vai passar nunca mais – mas basta diminuir a velocidade por alguns dias que o organismo se recupera.
Existe, porém, uma situação específica em que essa sensação de cansaço extremo não passa. Pior: ela parece não ter nenhuma causa aparente, resiste a longas noites de sono, sessões de relaxamento, férias e pode até atrapalhar o rendimento profissional e a vida pessoal. É a chamada Síndrome da Fadiga Crônica, doença que, segundo a Organização Mundial da Saúde, atormenta cerca de 17 milhões de pessoas em todo o mundo.
No Brasil, ainda não há números, mas é consenso entre os médicos que a fadiga crônica é subdiagnosticada. “Há países, como a Inglaterra e os Estados unidos, que estudam a doença há mais tempo do que nós”, avalia o psiquiatra Mario Juruena, professor da Faculdade de Medicina da USP, em São José de Campos. “É preciso mais conhecimento sobre o assunto”.
A Síndrome da Fadiga Crônica é mesmo complicada de diagnosticar. Como a doença apresenta sintomas que se aplicam também a uma série de outras enfermidades, o diagnóstico definitivo é feito por eliminação. É necessário confirmar o que o paciente não tem – a lista inclui anemia, insuficiência cardíaca, fibromialgia, depressão, câncer ou qualquer outra condição que tenha como sintoma a fraqueza e o cansaço.
Principais sintomas da Síndrome da Fadiga Crônica
É comum confundir a Síndrome da Fadiga Crônica com outras doenças
Doenças infecciosas podem ser a causa da Síndrome da Fadiga Crônica
Síndrome da Fadiga Crônica tem cura, mas tratamento é longo
Principais sintomas da Síndrome da Fadiga Crônica
Quem se queixa de cansaço prolongado e debilitante por mais de seis meses é sério candidato a um diagnóstico de Síndrome da Fadiga Crônica. Além da intensidade, é a longevidade de seus sintomas que ajuda a identificar a doença. No artigo “Síndromes Funcionais Somáticas”, os pesquisadores Luiz Augusto Pilan e Isabela Benseñor definem os parâmetros para diagnosticar a doença. São eles:
• A fadiga deve ser clinicamente avaliada, mas não explicada, com duração mínima de seis meses. Deve ter início recente, não pode ser resultante de esforço físico e não deve melhorar substancialmente com o repouso, além de causar uma redução nos níveis de atividade do paciente.
• Quatro ou mais dos seguintes sintomas devem aparecer: falhas de memória, dores nos gânglios, sono não reparador, dor no corpo, dor nas articulações, gânglios doloridos, dores de cabeça e mal estar após o exercício físico, com duração de mais de 24 horas.
Outros sintomas também podem apontar para um quadro de Síndrome da Fadiga Crônica, como a irritabilidade e a depressão atípica (quem tem depressão atípica costuma apresentar obesidade, sono excessivo e fica muito sensível a críticas).
É comum confundir a Síndrome da Fadiga Crônica com outras doenças
Como a Síndrome da Fadiga Crônica apresenta sintomas em comum com várias outras doenças, antes de confirmar o diagnóstico, o médico descartar a ocorrência de uma série de enfermidades, entre elas:
• insuficiência cardíaca e arritmias
• lúpus, artrite reumatóide, esclerose
• problemas na hipófise e na tireóide
• diabetes, apnéia do sono
• abuso de drogas
• obesidade
• depressão e outros distúrbios psiquiátricos
• infecções e tumores malignos
Doenças infecciosas podem ser a causa da Síndrome da Fadiga Crônica
Apesar de não ser possível definir as causas da Síndrome da Fadiga Crônica, existem algumas situações que podem servir de gatilho para a doença, como explica o psiquiatra Mario Juruena: “Cinquenta por cento dos casos de fadiga crônica tiveram origem após infecções prolongadas como gripes e outras doenças virais”, observa.
Há também a questão da predisposição genética. Algumas pessoas são mais sensíveis aos mecanismos que desencadeiam a doença, como o estresse e as variações hormonais. “Taxas de cortisol mais baixas do que o normal podem indicar a síndrome”, afirma Juruena.
Por essa razão, as mulheres são especialmente suscetíveis à fadiga crônica, pois, ao longo da vida, experimentam mais alterações de hormônios do que os homens. Quem já passou por uma experiência traumática, seja ela um evento de vida, uma cirurgia ou um tratamento especialmente difícil, também pode ser candidato a desenvolver a síndrome.
Síndrome da Fadiga Crônica tem cura, mas tratamento é longo
Felizmente, a Síndrome da Fadiga Crônica tem cura, mas o tratamento é demorado. Trata-se de um processo de médio a longo prazo, que pode incluir medicação pesada. O acompanhamento médico é essencial e, por ser uma doença com implicações tanto físicas, quanto psicológicas, a terapia é inevitável na maior parte dos casos.
O tratamento inclui, ainda, mudanças de estilo de vida. É fundamental que, a partir do diagnóstico, o paciente adote uma atividade física. Além de fortalecer os músculos, já foi cientificamente comprovado que o exercício estimula a produção dos hormônios do bem estar.
Também é essencial para o sucesso do tratamento que o paciente não abandone a sua vida social e invista em atividades que lhe dão prazer. Por fim, quem já passou pela Síndrome da Fadiga Crônica deve ficar atento a recaídas. “Quem já teve, fica mais suscetível”, avalia o psiquiatra Mário Juruena, professor da USP de Ribeirão Preto.
Tanto para quem já superou a doença, quanto para quem acabou de começar o tratamento, visitas periódicas ao médico são fundamentais.