Desde a infância o livro pode trazer algumas sensações muito prazerosas, como quando pela primeira vez a criança vê uma borboleta colorida num livro e compreende a história das suas cores, do seu voo e, mesmo sem legenda, dá um sentido para a existência da borboleta. A criança aprende que ela existe.
Ainda na infância, nos é permitido construir com os livros, quando a lagarta não tem cor e é possível pintar a borboleta, dando a ela o seu colorido e sendo parte daquela borboleta. Não há como errar, as cores são suas, a borboleta pode ter todas as cores que você tiver.
A palavra biblioterapia deriva do grego biblíon (livro) e therapeía (terapia) e na prática significa “cuidados em caso de doenças, mas também de saúde, pela compreensão dos livros”. O biblioterapêuta é aquele que acompanha esse processo de identificação da borboleta, desenvolvimento das cores no artista, para que se possa transferir sua compreensão e colorir a história.
Alguns passos importantes e de fácil experiência quando se tem contato com um livro são “com qual personagem ou situação me identifico e porque”, as releituras podem evidenciar uma mudança nesse processo de identidade. Por exemplo “quando li Dom Casmurro no colegial, lembro-me de me identificar bem mais com o Bentinho, não sei bem porque, mas hoje, lendo novamente, me sinto a própria Capitu”. Esse trânsito entre personagens oferece uma visão do movimento que temos feito na vida e, inclusive, compreender como tem sido sentir-se “Catitu” e em quais momentos essa sensação se predomina.
O projeto books on prescription mental health, comprovou que a inserção da leitura em tratamentos de depressão, ansiedade, fobias e outras angústias, apresentavam melhora de sintomas e em alguns casos a cura. Também foi percebida uma potencialização desse efeito quando em leituras conjuntas, em grupos ou em duplas. A melhora de sintomas psicológicos, também contribuiu para uma redução de manifestações psicossomáticas ou de psico-interação, como infartos, disfunções cardiorrespiratórias, alergias entre outras. E esse foi o pontapé para o que se identificou na Europa como “farmácias literárias”.
Fato é que, a leitura, para muitas pessoas é um habito agradável e prazeroso, mas quando pode-se identifica-lo como terapêutico? A mediação da leitura com o efeito reflexivo é a essência da terapia literária. Em alguns momentos a falar sobre uma leitura com outras pessoas pode oferecer pontos não experimentados na leitura individual, ou mesmo uma identificação com o outro.
Um outro fato é que, cada um vivencia a mesma leitura de forma única, isso significa que sempre poderemos ser uma nova Capitu.
A leitura como identificação é algo quase automático, identifique-se e faça parte da leitura.