Escutas o que dizes!

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Para a preservação da saúde, é preciso haver adequação em nossas respostas de autodefesa. Quando há inadequação nas defesas que estruturamos, adoecemos. Elas devem ser suficientemente boas, não ficando aquém da força necessária para neutralizar a agressão e, também, não podem ir além do necessário. Muitas vezes, os danos causados pelos mecanismos de proteção são maiores do que os causados pela própria agressão.

Nossa sobrevivência, tanto a orgânica como a psíquica, depende da capacidade de adaptação que, em suma, está relacionada a como modulamos respostas às pressões vindas do ambiente em que vivemos.

Também os desajustes psicológicos têm origem a partir da estruturação de mecanismos de defesa precários ou exacerbados. Excesso ou escassez de resposta é o que, em última análise, determina o adoecimento do corpo e da alma. Uma modulação adequada entre a ação e a reação é essencial.

Há em todos nós a necessidade de proteção contra situações traumáticas geradoras de angústias. Porém, não há como viver sem as pressões estressantes. Assim sendo, é importante ter repertório para o enfrentamento e manejo desses estressores.

“Se correr o bicho pega e se ficar o bicho come” é o ditado que reflete a falta de repertório, a encruzilhada em que nos vemos quando só se vislumbram duas saídas, claramente ineficazes, ambas com desfecho entregue ao acaso. A paralisia à espera um milagre, ou a corrida desvairada em busca de um sortilégio.

Todavia, temos recursos preciosos que podemos mobilizar, dons que podemos desenvolver. Opções de caminhos fora da lógica binária do tudo ou nada. Algo que hiberna dentro de cada singularidade humana.

Alguns tratamentos psicoterápicos se baseiam em se dispor a escutar os relatos do paciente, estabelecendo um contexto de escuta, um ambiente seguro em que as livres associações dos pensamentos possam se manifestar e ser interpretados. Mas o curioso é que parece que as coisas começam a mudar não por conta de se ter alguém a nos escutar; as coisas passam a se transformar quando nos tornamos capazes de ouvir a nós próprios.

Talvez se possa afirmar que os transtornos afetivos são um desencontro com a nossa própria humanidade, que se consagra em razão de mecanismos de defesa desajustados. É como a invasão de um parasita que, assim como um vírus que invade e subverte o funcionamento de uma célula, invade nossa mente, subvertendo a organização emotiva e desestruturando nosso juízo crítico. A imunização contra esse invasor se dá quando mobilizamos o que há de humano em nós; quando restauramos os elos com nossa intimidade e reaprendemos a nos ouvir.