Em um momento de crise econômica e sanitária como a pandemia de coronavírus, desigualdades estão sendo escancaradas. A ocupação majoritariamente negra de empregos informais e cargos que fazem parte dos serviços essenciais evidenciou a falta de equidade racial no mercado de trabalho. E, como consequência, essa parcela da população enfrenta situações cotidianas de desvalorização profissional, exclusão e violência – o que apenas acarreta o não desenvolvimento da sociedade como um geral.
Os trabalhadores negros durante a pandemia de coronavírus
No mercado de trabalho, a diferença da ocupação de cargos entre brancos e negros se tornou ainda mais evidente quando ficar em casa foi uma necessidade. Durante a pandemia de coronavírus, 4,9 milhões de postos de trabalhos foram reduzidos – sendo que, em grande parte, eram ocupados por negros. Estes cargos se dividiam, em maior parte, entre trabalhadores da área do comércio, da construção e dos serviços domésticos, todas funções essenciais que não puderam cumprir a quarentena integralmente.
Apresença de trabalhadores negros é predominante em alguns setores, como Comércio, Limpeza Urbana, Segurança, Telemarketing e Construções. São também estes setores que estão realizando os maiores cortes de postos de trabalho durante a pandemia.
Desse cenário, é possível extrair um padrão: trabalhadores negros (o que inclui indivíduos pretos e pardos), quando empregados, ocupam posições com salários mais baixos que os recebidos por brancos e estão mais suscetíveis a adversidades.
Causas e números da falta de equidade racial no mercado de trabalho
A desigualdade racial não é um fenômeno exclusivo do mercado de trabalho, ela se dá também em outros setores da sociedade. Fruto do período da escravidão, em que negros tiveram sua mão de obra explorada, nunca houve um critério plausível para este tipo de exclusão.
A cor da pele foi motivo de séculos de violência contra a raça negra, que além de trabalhar em serviços essenciais desde aquela época, também sofreu com o exílio forçado de sua terra natal. Para além do período de escravidão, depois de libertos, os trabalhadores negros encontravam ainda dificuldade de inserção no mercado de trabalho, fato proveniente do racismo.
Isso se reflete até hoje. De acordo com dados da OXFAM de 2016, 80% das pessoas negras ganhavam até dois salários mínimos – sendo que 56% das mulheres negras não atingiam o valor de 1,5 salário mínimo mensal. A pesquisa também revela que, para cada trabalhador negro, há quatro trabalhadores brancos recebendo acima de 10 salários mínimos.
Neste ritmo, e frente às adversidades trazidas pela pandemia, a equidade racial nos postos de trabalho ocorrerá somente em 2089.
O que fazer?
Não há uma “receita” para resolver um problema tão complexo e que não é somente brasileiro. No mercado de trabalho, cada vez mais estão sendo implementadas cláusulas de promoção da equidade racial. Para isso, é necessário:
- Programas de ações afirmativas do poder público, que auxiliam o processo de escolarização até a contratação de um profissional negro;
- Transparência de dados dentro das empresas, para entender qual o perfil de trabalhador existente na companhia, compreender as dificuldades e exclusões presentes no quadro de funcionário e assim criar estratégias com foco na equidade racial;
- Negociações coletivas entre sindicatos de trabalhadores e representantes de empresas;
- Programas de diversidade dentro das empresas, sejam elas privadas ou públicas, que proporcionam valorização e capacitação dos funcionários;
- Caso seja uma medida adotada pela empresa, é preciso compreender que as cotas não são uma quantidade fixa de funcionários negros dentro de uma equipe, mas sim o mínimo para que o quadro de trabalhadores seja diverso.